A comida das avós


"Come mais um bocadinho, estás tão magrinha!" era a típica frase que tinha tanto de irritante como de afectuosa. Podia ter acabado de comer um prato maior do que eu que as minhas avós diziam sempre isto.
Deixei de ouvir esta frase aos 19 anos e percebi que a partir desse momento já não tinha mais avós [talvez por isso, sempre que vejo alguém que não dá a devida importância à avó, não consigo deixar de pensar que não sabem a sorte que têm].

As avós são fundamentais na nossa vida. São preocupadas, disponíveis, generosas e têm em comum uma grande característica: aqueles pratos que fazem como ninguém e que nem mesmo as nossas mães conseguem reproduzir (apesar de pensarem que sim). 
A comida das avós tem um sabor único que nos enche a alma. É uma espécie de "comida encantada" que invade a nossa memória desde cedo e se instala para sempre. Os pratos da minha avó materna que mais me marcaram foram a "sopa amarela", o arroz de manteiga e uma feijoada só com feijão e enchidos. Os da minha avó paterna eram os que levavam feijão e um bolo que ela fazia para o qual peneirava dedicadamente a farinha de sorriso nos lábios.

Depois dos meus 19 anos, a minha única referência de avó era a da minha melhor amiga. Uma matriarca a quem até os de fora chamavam carinhosamente de avó. Há coincidências extraordinárias ao longo da vida, uma delas foi o facto dela fazer um arroz muito aproximado do arroz de manteiga da minha avó. Infelizmente também esta avó já não está entre nós.

Apesar dos seus pratos terem uma espécie de super-poderes, as avós não têm e por isso não duram para sempre. Aproveitem bem as vossas, tentem descobrir todos os segredos das suas receitas, sempre com a humildade de aceitarem que feitas por vós nunca ficarão iguais. Há quem diga que é a mão da própria pessoa... Eu acredito que sim, porque como escreveu Mia Couto "Cozinhar é um modo de amar os outros" e não há amor igual ao das avós.


[P.S. Às minhas avós: continuo magrinha]

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