O adeus a Anthony Bourdain... E o que é que sabemos mesmo sobre os outros?


Hoje, tive a sensação de receber a notícia da morte do chef Anthony Bourdain como se de alguém meu conhecido se tratasse. Não no aspecto da dor mas foram muitas as horas de programas, tantas que o tornaram numa espécie de pessoa próxima. Foi estranho e ao mesmo tempo um choque com a realidade que me deixou o resto do dia a reflectir sobre aquilo que nós pensamos saber sobre os outros e o que sabemos na realidade - zero.

De todas as reacções que já li hoje, concluí que a opinião geral é muito semelhante à minha. Anthony Bourdain era visto como alguém de bem com a vida, que tinha um grande prazer em combinar gastronomia e viagens. Era um daqueles privilegiados que fazia o que gostava e ainda era pago para isso. Sendo este o perfil traçado pela maioria, quantos de nós imaginaríamos que alguém assim pudesse acabar com a própria vida?

A primeira reflexão: por muito que nos demos ao luxo de pensar o contrário, nunca vamos saber nada a respeito da vida dos outros. O facto de nos "entrarem pela casa" diariamente, seja através dos media ou das redes sociais, não é sinónimo de conhecermos alguém. E se às vezes não conhecemos nem os nossos vizinhos, que vemos ao vivo diariamente, quanto mais um perfeito desconhecido a quem temos acesso por meios digitais?
Por falar em vizinhos e em gastronomia, ainda hoje tive essa percepção... Uma vizinha que eu via como alguém que deveria ter um estilo de vida relativamente saudável, talvez por andar sempre bronzeada, em boa forma física e ter determinado estilo a vestir-se, estava hoje à minha frente na fila do supermercado com o carrinho cheio de comida processada, como pizzas congeladas, cannellonis, batatas fritas e chocolates. É este o problema dos rótulos... Por muito que os queiramos evitar, o nosso inconsciente trata disso por nós.

Acredito que os media e as redes sociais podem ter inúmeros benefícios mas é também em momentos como este que compreendo os perigos daqueles que tomam os desconhecidos como referências. Muitas pessoas medem a sua própria felicidade com base na felicidade aparente de desconhecidos. A verdade é que vivemos em permanente contacto com a (suposta) realidade dos outros mas, na prática, não devemos "comprar" tudo o que vemos.
E é sempre oportuno reflectirmos sobre a importância e o tempo que damos às redes sociais e as consequentes frustrações provenientes de comparações (físicas, emocionais, financeiras...). Vamos viver mais a nossa vida e menos a dos outros. A felicidade somos nós que a fazemos, diariamente. E se os outros, às vezes, nos parecem mais felizes do que nós, não significa que seja essa a realidade.

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